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Ponte de corda Q’eswachaka: A ponte para o passado

A Ponte Q'eswachaka, no Peru, é um fascinante exemplo de engenharia ancestral. Feita de cordas trançadas, é reconstruída anualmente pelos habitantes locais, mantendo tradições e habilidades.

Se depender do empenho dos habitantes da região de Quehue, localizada a cerca de 100 quilômetros de Cuzco, no Peru, o espírito da civilização inca continuará a ecoar eternamente nas majestosas montanhas da região.

Anualmente, esses dedicados moradores se reúnem, desafiando as águas do Rio Apurimac ao balançarem sobre suas correntes, para realizar a manutenção da venerável ponte sagrada Q’eswachaka (ou Keshwa Chaca). Esta incrível estrutura de 35 metros é sustentada por longas fibras naturais torcidas, formando uma ponte “corda” verdadeiramente única.

Ponte de corda Q’eswachaka: A ponte para o passado

A ponte Q’eswachaka é confeccionada com a resistente planta chamada Q’oya icchu, cujo nome provém do idioma quéchua e se traduz como “Ponte de Corda Torcida” (Q’eswa: “corda torcida” e Chaka: “ponte”). Reconstruída anualmente, essa tradição perdura há pelo menos cinco séculos, mantendo viva a conexão com os antigos povos andinos. Embora a origem exata da ponte permaneça envolta em mistério, sabe-se que ela remonta ao Império Inca, erguendo-se há no mínimo 500 anos. A punição por adulterar tal ponte era a morte.

Localizada em Quehue, na província de Canas, a ponte estende-se por 28,67 metros de comprimento, 1,20 metro de largura e fica suspensa 18 metros acima do caudaloso rio do cânion, a uma altitude impressionante de 3.700 metros acima do nível do mar. Acredita-se que esta seja a última sobrevivente desse tipo em todo o mundo, testemunhando a magnificência e a durabilidade de uma herança única.

Ponte de corda Q’eswachaka: A ponte para o passado

A ponte Q’eswachaka é uma peça essencial do Qhapaq Ñan, conhecido como o “grande caminho Inca”, um vasto sistema viário que se estende por mais de 30 mil quilômetros. Esse impressionante feito de engenharia foi construído pelos povos Incas, conectando a capital do império Inca, Cusco, a diversas comunidades andinas no Peru, Argentina, Bolívia, Colômbia, Equador e Chile. Inclusive, a famosa “trilha inca”, que se estende de Cusco a Machu Picchu, faz parte dessa intrincada rede.

Ponte de corda Q’eswachaka: A ponte para o passado

A singularidade das pontes como a Q’eswachaka, feitas de fibras naturais torcidas, não foi eclipsada com a chegada dos espanhóis, pois representavam uma alternativa duradoura às estruturas convencionais de concreto e alvenaria. Sua flexibilidade e resistência provaram-se particularmente eficazes diante dos fenômenos naturais frequentes nas regiões andinas, como terremotos e enchentes. Há relatos de que, durante a chegada dos espanhóis, as comunidades locais destruíram a ponte para impedir o acesso ao outro lado do rio, mas ela foi reconstruída nos anos subsequentes.

Em agosto de 2009, o Ritual de Renovação da ponte Q’eswachaka e os conhecimentos associados à sua história e construção receberam o reconhecimento oficial como Patrimônio Cultural da Nação pelo Instituto Nacional de Cultura do Peru. Este gesto destaca a importância cultural e histórica dessa notável estrutura, preservando as tradições ancestrais que permeiam sua existência.

Ponte de corda Q’eswachaka: A ponte para o passado

Ritual de Renovação

Todo ano, sempre no segundo domingo do mês de junho, uma grande festa é realizada às margens do rio Apurimac, para comemorar a reconstrução da ponte Q’eswachaka. Aproximadamente 1.000 homens e mulheres das comunidades de Huinchiri, Chaupibanda, Ccollana Quehue e Pelcaro se reúnem durante quatro dias para este ritual, que foi passado de geração a geração, por mais de 500 anos. Graças a esta tradição que a ponte sobrevive até os dias de hoje quase em seu estado original. Ela simboliza uma homenagem à Pachamama, a Mãe Terra, aquela que teria o poder de decidir sobre a abundância das colheitas.

O ritual de reconstrução da ponte Q’eswachaka é parte de uma tradição dos povos pré-hispânicos denominada minka, que consiste na construção de grande obras através do trabalho conjunto dos membros de uma comunidade, que neste caso, consiste no trabalho conjunto de várias comunidades.

Ponte de corda Q’eswachaka: A ponte para o passado

1º dia

Logo ao amanhecer é celebrado um ritual ao Apu Quinsallallawi por um Paqo (sacerdote andino), ao mesmo tempo que o Q’oya icchu – a grama ou palha dos planaltos que é a matéria-prima da ponte – que já foi antecipadamente coletado pelas quatro comunidades, é empilhado e recolhido. Elas são trançadas pelas mulheres em longas cordas chamadas de q’eswas (corda torcida), sob a supervisão de um chakaruwak (especialista ou “engenheiro inca”).

A tarde os homens divididos em dois grupos, cada um em um lado da ponte, estendem as cordas de extremidade a extremidade, formando a “trança maior”.

Ponte de corda Q’eswachaka: A ponte para o passado

2º dia

A ponte antiga é desmontada, os pregos de pedra que sustentam a ponte são retirados e as quatro novas cordas que foram construídas no dia anterior são colocadas, que serão a base da nova ponte.

3º dia

Construção da trama que será o piso da ponte e da grade de segurança da ponte. Após o fim dos trabalhos, são feito os agradecimentos aos Apus (espíritos da montanha) por não terem ocorrido nenhum incidente na reconstrução da ponte.

Ponte de corda Q’eswachaka: A ponte para o passado

4º dia

No último dia é comemorada a construção da ponte com um grande festa com danças tradicionais e comidas típicas. Festejar o trabalho comunitário é mais uma das tradições dos povos Incas.

Ponte de corda Q’eswachaka: A ponte para o passado
Ponte de corda Q’eswachaka: A ponte para o passado
Ponte de corda Q’eswachaka: A ponte para o passado
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Artigo publicado originalmente em agosto de 2015


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Magnus Mundi

Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

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