No sul da Índia, na região litorânea do estado de Karnataka, uma curiosa tradição se mantém há 1600 anos. É a Kambala, uma corrida de búfalos cujas origens remontam à época em que essas terras eram dominadas pela dinastia Alupa, formada por poderosos locais. A origem da tradição é incerta, mas é relacionada ao cultivo de arroz e agradecimento aos deuses pela colheita.
A Kambala mudou de feição ao longo dos séculos mas preservou a essência. No passado era chamado de Devara Kambala (Kambala de Deus), e era um “entretenimento” real e só soberanos e nobres assistiam às corridas. Hoje é um evento popular que reúne as várias comunidades rurais de Karnataka e arredores. O tempo só não mudou a forma como os animais são tratados.
Amarrados aos pares, com cordas que lhes atravessam as narinas e montes de enfeites coloridos cravados na cabeça, os búfalos apanham com pesados cacetes para correr sobre a pista de kama (plantação de arroz) de 150 metros. São pilotados por um agricultor que se agarra à parelha de animais pelo tronco que une suas cabeças e que pode correr a pé ou apoiando os pés numa geringonça de madeira semelhante a uma prancha de surfe, só que bastante estreita.
Às vezes, quando os búfalos ultrapassam a velocidade de 30 quilômetros por hora, os pilotos chegam a plainar, agarrados só por uma mão aos animais. É quando voa lama para todo lado e a plateia urra de satisfação. A prêmio para o par de búfalos que espirra lama mais alto.
A temporada kambala acontece todos os anos em vários vilarejos de Karnataka entre novembro e março (espaço de tempo entre a semeadura e a colheita do arroz) e dura um dia inteiro e muitas vezes a noite também. Imensos trompetes ou tambores anunciam o início da festa e marcam os intervalos entre uma corrida e outra com músicas típicas. Não há mais nobres presentes, mas foram devidamente substituídos pelos proprietários rurais. Esses poucos ricaços numa região de miseráveis acomodam-se numa tribuna de honra, separados dos camponeses.
São eles também os donos dos búfalos. É com eles que ficam os troféus do sórdido campeonato. Mas é de toda a multidão que vêm os urros, os gritos de satisfação com a dor dos animais. É um esporte perigoso para quem controla os animais e também para os espectadores, pois a todo momento se pode observar um par de búfalos descontrolados fugindo da raia e levando tudo que está no caminho no meio da multidão.
Publicado originalmente em agosto de 2015
Fonte: Revista Terra Nº 5 Edição 61
Boa noite, concordo que faz parte da cultura mas maltratar animais é inaceitável.
Abraços
Lúcia
Excelente artigo, muito bem feito e imagens de primeira. Pena que este tipo de “cultura” representa a falta de evolução de alguns seres humanos.